Quais os riscos de utilizar ácidos na pele sem orientação médica?
Embora amplamente presentes na composição de cosméticos, determinados ácidos não devem ser utilizados sem acompanhamento de um dermatologista; saiba quais são estes ácidos e suas recomendações de uso O desejo de ter uma pele jovem, iluminada e uniforme leva muitas pessoas a seguirem recomendações de não especialistas. Quem nunca comprou um produto apenas por ver boas avaliações nas redes sociais? Embora isso seja comum, não é aconselhável adquirir produtos com fórmulas complexas e ativos, como determinados ácidos, sem antes verificar se são adequados para o seu tipo de pele.Nos últimos anos, alguns ácidos se tornaram populares para além dos consultórios dermatológicos e foram incorporados na composição de produtos de skincare acessíveis a qualquer pessoa. Esses ácidos são amplamente utilizados em uma variedade de cosméticos, como cleansers, toners, serums, esfoliantes e cremes, visando tratar diferentes problemas de pele. No entanto, apesar de facilmente encontrados, muitos desses produtos possuem contraindicações e precisam ser aplicados em situações específicas que demandam acompanhamento médico. "É muito perigoso usar os ácidos sem as informações e orientações corretas. Isso porque cada pessoa tem níveis diferentes de sensibilidade. Alguns desses produtos não são indicados para gestantes ou lactantes, por exemplo, e, frequentemente, devem ser aplicados apenas à noite para evitar exposição ao sol", alerta a dermatologista Ligia Novais. Abaixo, a médica explica por que é fundamental usar esses produtos conforme as instruções e buscar a orientação de um profissional, especialmente ao incorporar ácidos mais potentes na rotina de skincareComo funcionam os ácidos na pele?Os ácidos na pele funcionam de diversas maneiras, dependendo do tipo e da concentração. "A grande maioria dos ácidos provocam uma regeneração da pele, fazendo isso ao agredi-la para que ela se renove", diz Ligia. Os alfa-hidroxiácidos (AHAs), como o ácido glicólico e o ácido lático, promovem a esfoliação, ajudando a remover células mortas e melhorando a textura. O ácido hialurônico, um umectante, atrai e retém a umidade, mantendo a pele hidratada. Já o ácido salicílico, um beta-hidroxiácido (BHA), penetra nos poros para desobstruí-los e controlar a produção de sebo, sendo especialmente benéfico para peles acneicas. Outros ácidos, como o ácido kójico e o ácido ascórbico, ajudam a reduzir manchas e uniformizar o tom da pele, enquanto o ácido retinoico estimula a produção de colágeno, melhorando a firmeza e a elasticidade. "Os ácidos não são vilões do skincare e muitas vezes são necessários para o tratamento de diferentes condições de pele. Não à toa são tão difundidos no universo da beleza, no entanto, o uso indiscriminado e sem acompanhamento de alguns ácidos pode ser altamente nocivo à pele", alerta a médica. Quais as consequências do uso de ácido sem indicação médica?A médica explica que o uso inadequado de ácidos pode causar irritação, resultando em vermelhidão, sensação de queimação e desconforto na área aplicada. Ácidos, especialmente aqueles usados em altas concentrações, podem levar à descamação excessiva da pele, deixando-a sensível e vulnerável. Além disso, muitos ácidos, como os alfa-hidroxiácidos (AHAs) e beta-hidroxiácidos (BHAs), aumentam a sensibilidade da pele ao sol, elevando o risco de queimaduras solares e danos UV, que podem resultar em hiperpigmentação e envelhecimento precoce. "Existem ácidos com efeitos mais brandos, como o ácido lático ou o ácido hialurônico que tem performance hidratante, e outros mais fortes, como o tranexâmico, o glicólico e o retinoico", diz a médica. Sem uma avaliação adequada, pode-se não estar ciente de possíveis alergias a determinados ácidos, o que pode desencadear reações alérgicas graves. O uso incorreto de ácidos pode alterar o pH natural da pele, comprometendo a barreira cutânea e tornando a pele mais suscetível a infecções e outros problemas. Além disso, o uso inadequado pode causar manchas escuras (hiperpigmentação) ou manchas claras (hipopigmentação), especialmente em peles mais escuras. Aplicações incorretas ou uso excessivo podem causar danos profundos na pele, levando a cicatrizes permanentes. Portanto, é sempre aconselhável consultar um dermatologista antes de iniciar qualquer tratamento com ácidos para garantir que o produto e a concentração escolhidos sejam apropriados para o seu tipo de pele e necessidades específicas.Qual a função dos ácidos mais comuns em produtos de skincareÁcido Glicólico: Ele promove a esfoliação, melhora a textura da pele e reduz manchas. Mas se usado incorretamente, pode causar irritação, vermelhidão e aumento da sensibilidade ao sol.Ácido Salicílico: Conhecido entre pessoas que lutam contra a acne, o ácido salicílico penetra nos poros, ajuda a desobstruí-los e controla a oleosidade, sendo eficaz no tratamento de espinhas. Seu uso incorreto pode acarretar em irritação, ressecamento excessivo e potencial para causar alergias.Ácido Lático: Este ácido esfolia e hidrata a pele, sendo mais suave e adequado para peles sensíveis. No entanto, seu uso inadequado pode resultar em irritação, especialmente em peles muito sensíveis.Ácido Hialurônico: Um umectante que atrai e retém a umidade, proporcionando hidratação intensa. Os riscos são raros, mas algumas formulações podem causar leve irritação. Ácido Ascórbico (Vitamina C): Conhecido por suas propriedades antioxidantes, ele protege contra danos dos radicais livres, clareia manchas e estimula a produção de colágeno. Se usado em concentrações muito altas, pode causar irritação e desconforto.Ácido Kójico: Utilizado para clarear manchas e uniformizar o tom da pele, inibindo a produção de melanina. Seu uso inadequado pode levar a irritação e reações alérgicas em algumas pessoas.Ácido Azelaico: Com propriedades anti-inflamatórias e antibacterianas, é eficaz no tratamento de acne e rosácea. No entanto, seu uso incorreto pode causar irritação, ardência e descamação.Cuidado ao misturar ativos de skincare com ácidosDe acordo com o dermatologista Alessandro Alarcão, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e sócio efetivo e conselheiro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), a combinação de certos ativos com determinados ácidos pode ser prejudicial para a pele. "Além de prestar atenção aos ativos e produtos que podem ou não ser combinados, é importante verificar a concentração desses ativos, pois, dependendo da quantidade, alguns ingredientes podem potencializar outros e causar dermatites, alergias e sensibilidade na pele", aconselha.O dermatologista desaconselha a mistura de certos ingredientes ativos na mesma etapa de skincare, como peróxido de benzoíla, retinol e vitamina C, pois podem causar ressecamento e irritação na pele. O peróxido de benzoíla, usado para tratar acne, pode anular os efeitos da vitamina C e do retinol. Além disso, combinar vitamina C e retinol pode alterar o pH da pele e ressecá-la; o ideal é usar vitamina C de manhã e retinol à noite, garantindo a remoção completa do antioxidante antes de aplicar o retinol. O ácido glicólico, útil para regeneração celular e controle da oleosidade, não deve ser combinado com retinol na mesma etapa, sendo necessário um intervalo de pelo menos seis horas entre os dois.Combinações como ácido salicílico e retinol, assim como peróxido de benzoíla e hidroquinona, também são desencorajadas devido ao risco de causar irritação, vermelhidão e até queimaduras. O ácido salicílico, eficaz no tratamento da acne, pode sensibilizar a pele quando usado com retinol. O peróxido de benzoíla, um potente antimicrobiano, e a hidroquinona, utilizada para clarear manchas, podem juntos causar hipersensibilidade e queimação. Portanto, é crucial considerar a compatibilidade e a concentração desses ativos ao planejar uma rotina de cuidados com a pele.